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O perfume que você exala

Por Jefferson Santos

Data de Publicação: 04 de Janeiro de 2021

Durante uma caminhada matinal reencontrei o Tássio.

Eu o conheci anos atrás quando ingressou na Aeronáutica como soldado. Ele era auxiliar de desenho técnico e, às próprias expensas, evoluiu para desenho arquitetônico. Mais adiante foi promovido a cabo e depois sargento, graduação na qual ingressou no contingente da reserva remunerada.

Era um profissional jovem, contudo circunspecto, concentrado e muito dedicado, o que lhe permitia ser eficiente em meio a escassez de recursos comuns naquela época.

Sua postura, seu interesse e respeito às normas e regras sempre me impressionaram muito. Sempre otimista e proativo. Ele perguntava o que tinha a ser feito e fazia muito bem feito.

Ele nunca foi meu subordinado direto. Muito pelo contrário, ele trabalhava no setor de apoio logístico muito longe dos hangares de aeronaves, no setor operacional aéreo. Ele apenas ficava-me subordinado por ocasião de serviços da guarda e de segurança e de apoio operacional às aeronaves em trânsito, atividades comuns em uma organização militar tipo base aérea.

Tudo nele tinha sua assinatura de competência: seu uniforme, o setor de trabalho sempre limpo e organizado, suas ferramentas de trabalho sempre limpas, conservadas, operativas e prontas para o uso, apesar das constantes restrições financeiras que coibiam aquisições de equipamentos mais modernos.

Sempre que nos livros de gestão ou de administração eu lia algo sobre produtividade e eficiência sua imagem me vinha de imediato, pois seu local de trabalho era insalubre, seu setor pega o calor nordestino do nascer ao pôr do sol. Ainda assim, sua entrega, seus produtos eram de primeira qualidade.

Nunca soube de ele ter feito corpo mole por falta de investimentos da organização em sua capacitação profissional. Pelo contrário, ele investia em seu desenvolvimento do salário que auferia, sempre confiante, sempre otimista.

Reconheço que profissionais como ele eu conheci poucos ao longo de meus trinta e cinco anos de serviço ativo na Força Aérea.

Nessa bela manhã ensolarada o reencontrei após longo período. Já aposentado da Aeronáutica agora ele cede suas competências e profissionalismo a um setor público de auditoria em saúde. São atividades complexas, até delicadas.

Feliz e radiante ele me relatou seus percalços junto a colegas de origem não militar e junto a um exigente chefe, também de formação civil, mas que, dentre todos os seus pares, escolheu ele, Tássio, para liderar e orientar novos funcionários entrantes naquele setor.

Foi quando ele me perguntou: "O que ele viu em mim, Coronel?"

Ao que lhe respondi:

"Tássio, desde que lhe conheci como soldado de segunda classe (raso) percebi que você era diferenciado. Acompanhei você, seu setor, suas dificuldades e suas entregas de algo nível e de alta qualidade. Isso tudo em meio aquela constante falta de recursos e de ambiente de trabalho desconfortável. Sempre vi você confiante, otimista e proativo. Até parado, em formação, sua postura era diferenciada. Essa é sua assinatura. Você calado e parado "exala" um aroma e as pessoas e os chefes preparados sentem esse seu "perfume" e se sentem seguras e confiantes em lhe atribuir responsabilidades e desafios complexos porque pressentem que você dará conta do recado."

Prossegui: "Seu lugar ainda não é esse. Com o tempo você irá galgar postos mais altos, mesmo tendo começado como soldado. Esse é você, essa é a sua assinatura. Sua história e suas competências são o perfume que você exala."

Ganhei o dia porque ele se despediu radiante e eu sempre ganho algum conhecimento quando converso com ele.

E você que leu essa narrativa até aqui?

Qual é o seu perfume? Qual é o aroma que você exala?

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