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O Brasil real

Por Jefferson Santos

Data de Publicação: 23 de Junho de 2019

O presente artigo tem a finalidade de instigar os leitores a uma mais profunda reflexão acerca das reais capacidades que a sociedade brasileira dispõe, no "Brasil real" para, lograda a reforma previdenciária e, quem sabe, a tributária ainda no atual governo buscar e permanecer na trilha do desenvolvimento econômico. Ele também faz referência à palestra que estruturei e um workshop que desenvolvi fruto de minha experiência profissional à frente de organizações sob constante pressões de contingenciamento de recursos financeiros públicos e demais recursos, tanto de quantidade de funcionários como de equipamentos e de infraestrutura logística.

Se formos nos basear nos artigos de jornais e de revistas, expressiva parcela de jornalistas, articuladores e especialistas nos fazem ver que a Reforma da Previdência será a verdadeira e única panaceia que nos livrará de todos os males e nos reconduzirá de volta à trilha do desenvolvimento social e econômico sustentáveis.

Penso diferente, sobretudo ao me debruçar sobre dados de fontes fidedignas (tais como IBGE, IPEA, BACEN, BNDES, CNI, CNS etc.) que revelam, de forma cristalina, os graves problemas que ainda temos e que, em meu entender, dificilmente nos livraremos nem tão cedo.

Tenho, nessa decorrência, a convicção de que se a reforma da previdência fosse aprovada amanhã e depois de amanhã os cofres nacionais fossem abarrotados de recursos financeiros oriundos de investidores, tanto nacionais como internacionais, ainda assim teríamos que enfrentar e combater, com firmeza e convicção, um formidável elenco de problemas estruturais e conjunturais que no "Brasil real" do dia a dia, dificultam as atividades empresariais tanto no segmento privado como no público.

A começar, lanço mão de dados que coletei para estruturar a palestra "Gestão Estratégica no Contexto Brasileiro ocasião na qual lanço mão de dados colhidos pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que evidencia a partir de pesquisas elaboradas entre 2012 e 2014 que o Brasil registra o lamentável percentual de 41% de sua população SEM NENHUM interesse em política. Esse deliberado alheamento cívico desbasta e desqualifica qualquer governança social séria, sobretudo em função das atuações das principais instituições nacionais.

Esse evidente desinteresse, em meu entender, é uma das principais causas sob a qual parlamentares eleitos pelo voto útil sentem-se à vontade em deliberar pautas que não atendem aos urgentes apelos de nossa infraestrutura que vem agonizando nos últimos vinte anos.

A começar por nossa infraestrutura social que vem, de forma constante, apresentando baixos índices de desempenho e de produtividade (apresento na mesma palestra os dados colhidos pelo Prof José Alexandre Sheinkman, carioca professor da Columbia University em Nova Iorque) fruto de nosso analfabetismo funcional e do apagão de mão de obra, objetos de constante análise e preocupação do MET.

Os perfis representativos desse tipo de problema estrutural denunciam vários problemas de desempenho laboral, aprendizado funcional, baixa produtividade e registros de elevados índices de acidentes de trabalho estes, por sua vez, não só impactando na competitividade do empreendimento como nos recursos disponíveis em função de compensações indenizatórias e de manutenção da saúde laboral.

O outro aspecto (também salientado na mesma palestra) é o grave impacto negativo ao crescimento consistente e estável de nossa economia. Desta vez é promovido pela baixa qualidade de nossa infraestrutura física.

Podem ser destacados no eixo da infraestrutura física o nosso baixo índice de saneamento básico que atende de forma razoável apenas 51% de nossas moradias e que impactam, sobremaneira, a formação físico biológica do indivíduo, seus aprendizados básicos e laborais além de deixa-lo sempre suscetível ao acometimento de doenças e epidemias o que, também, reduz significativamente seu rendimento laboral e a produtividade da organização.

Cabe, ainda, destacar nossa frágil mobilidade urbana e rural dificultadas pela baixa qualidade de nossas vias de circulação de pessoas, veículos, bens e produtos. Tais elementos aumentam, sobremaneira, os custos com manutenções veiculares, despesas com seguros de bens e de serviços.

Ainda evidencio outros aspectos sob a égide da infraestrutura física, tais como problemas com a qualidade e a distribuição da energia elétrica (e suas matrizes de composição). Problemas com todo o aparato tecnológico e os serviços de telecomunicações são, também, evidenciados por dados que resultam em nossa real dificuldade em integrar nosso imenso território e de retomar o crescimento econômico.

Por fim, para me aproximar mais das expectativas dos empresários e empreendedores em geral, a partir de dados oficiais do BACEN, BNDES e Ministério da Fazenda, induzo a reflexão acerca dos 7% do total geral (Orçamento autorizado pelo Congresso Nacional para ser executado ao longo de todo interregno fiscal de 2019 - LOA 2019) a ser repassado a 27 estados e 5.565 municípios. Considerando que expressiva maioria daqueles entes se encontram com contas em crise, considerando acudirem-se ao Presidente da Câmara dos Deputados para perdões daquelas dívidas, tais práticas têm se verificado a cada ano, sobretudo em função do elevadíssimo nível de comprometimento orçamentário SOMENTE para pagamento de funcionários.

O que considero oportuno salientar naquela palestra é a solução encontrada, sobretudo por prefeituras em graves dificuldades, em lançar mão de variações de tributos, tarifas, aumento de fiscalizações de toda sorte no fito de se obter um breve e efêmero alívio nas contas públicas municipais. Tais práticas impactam, e muito, as gestão das organizações de todo e qualquer porte e natureza.

À luz das severas restrições do "Brasil real" ofereço minha experiência como líder (ou gestor setorial) de organizações públicas onde convivi ao longo de trinta anos com restrições tanto financeiras como de recursos de toda sorte, tendo que entregar as metas impostas por autoridades competentes. Toda minha experiência pregressa é base de conhecimento que ofereço no workshop "Círculo da Produtividade Estratégica ocasião na qual enfatizo, sobretudo por intermédio de exercícios e integração entre os participantes, a importância da liderança objetiva para viabilizar a integração setorial, a visão contextual, a visão periférica e promover meios para a avaliação e solução das graves complexidades de líderes, empreendedores e organizações, país a fora, enfrentam no seu dia a dia e que não irão desaparecer nem tão cedo.

Por fim, considero de essencial relevância e urgência uma imediata postura, a ser adotada por todos os eleitores, de inversão de nossa idiossincrasia e sair da zona de conforto e se interessar mais por todos os assuntos maiúsculos que possam viabilizar uma madura e responsável governança social. Caso contrário, o mesmo "Brasil real" que recebemos fruto de nossa irrefragável anomia sócio-política, entregaremos a nossos filhos e netos. Tenho a convicção de que ninguém quer isso.

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