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A "vala comum"

Por Jefferson Wanderley dos Santos

Data de Publicação: 25 de Março de 2015

Breves considerações acerca do comprometimento.

Recentemente muito me perguntaram sobre comprometimento. O comprometimento social é bastante difícil por dar trabalho, por levar a pessoa a se expor em idéias e atos. Não está, infelizmente, no dna da idiossincrasia latina, notadamente aquela herdada dos reis da Ibéria, Portugal e Espanha.

Enfim, o exemplo que eu dava quando tinha subordinados, ainda no serviço ativo, era sobre a história que o militar -e cidadão- iria registrar para a História, mas aquela mais próxima, nuclear, a História para contar e dar de ensinamento de vida e exemplo para seus filhos, afinal, depois que constituímos família é a principal missão de um casal.

Eu me referia àqueles que somente queriam fazer o previsto, nada mais além do previsto, sem exposição de novas idéias, sem o risco do compromisso para se aceitar o erro da tentativa. Aqueles que se sentiam absolutamente à vontade em transitar "na moita", quase que "nas sombras". Sem opinar, apenas vendo, ouvindo e, eventualmente, com comentários abreviados da visão mais ampla e racional da realidade à qual estávamos inseridos.

E eu lhes perguntava: "O que você irá contar para seus filhos e netos?". "Como será sua história de construção de uma melhor sociedade, de um melhor local de trabalho?". "Como seria se você só se importa e se empenha (?!?!) em fazer o que lhe é previsto?"

Essas preleções, claro, no início ou fim de expediente, na tentativa de mobilizar a força de trabalho para dar um "surplus" mediante a constante e inexorável restrição orçamentária que nos obrigava e restringir suprimentos, projetos, priorizar.

A desculpa sempre era: "Dê-me os meios que eu faço!" E o paradigma de tanto se repetir era tal que quando, de forma quase que padrão, repetitiva e consuetudinária, o governo federal liberava recursos orçamentários para aquisições de bens e suprimentos de forma intempestiva, para se zerar qualquer crédito antes do último dia útil da execução do Orçamento Federal o cidadão, funcionário, militar, pai de família, conseguia o mérito de não ter nada para apresentar de novo, apenas propostas de aquisições de suprimentos abarrotando armazéns e armários, com a justificativa de "começar o ano na folga".

Esses períodos, via de regra na segunda quinzena de novembro, sempre sobrecarregavam os mais comprometidos, os que trabalhavam melhor, agregando mais valor ao que faziam e, também via de regra, acabávamos por lhes atribuir tarefas do "povão da vala comum", aqueles que "só ticavam quadrinhos".

Também eram períodos de feriados, meios-expedientes federais e municipais, criados, até, para se reduzir o custo das atividades laborais diárias devido ao fim dos recursos orçamentários para "vida vegetativa": pagamento de energia elétrica, limpeza, manutenção de patrimônios etc.

Também eram os mesmos períodos de doenças quase que terminais de avós, cirurgias de pais, doenças de mães e uma dolorosa miríade de mentiras para esticar o fim de semana nas grandes capitais, junto às famílias.

Bem, como não agredia ao regulamento eu tinha que liberá-los até para ajudar, por determinação do comando superior, na redução das despesas de vida vegetativa.

Quando vinham para mim com aquele papo meloso e lamuriento da necessidade de esticar o fim de semana, normalmente pedindo dispensas nas segundas-feiras ou matando toda, integralmente, a sexta-feira, eu lhes respondia antes de aquiescer e autorizar. "Sabes qual é a maior desdita para um cidadão sério e honrado? Comprometido?". "Não" era a resposta quase da totalidade. Ao que eu completava: "Não fazer qualquer falta". "Ser da vala comum tem dessas vantagens, você não faz falta nem a mim nem aos demais que querem ficar, comprometidos com a organização". "Enfim, a decisão e escolha de ir ou ficar são suas, absolutamente suas!!. Boa viagem, bom descanso!!"

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